=*= memórias...sempre as memórias, agitadas, ondas em vagas, semeadas,no nosso mar interior, e a nostalgia a sangrar... poesia. =*=
sábado, 31 de dezembro de 2016
sexta-feira, 30 de dezembro de 2016
Guernica (nunca mais...)
![]() |
Guernica, de Pablo Picasso (1937) |
era um tempo de penumbra
nas facas longas da loucura
feia manhã nos gritos de secura
que das gargantas roucas saiam.
mais alto do que rochedos
num mar de tempestade
erguiam-se as ondas do ódio
devastando a casta mocidade.
e dos píncaros das nuvens desciam
aves de metralha que expandiam
a morte dos corpos estilhaçados.
sem piedade, Guernica foi
pintada de sangue e mortandade.
("a razão da força é a força da razão")
delito de opinião
![]() |
desenho |
delito de opinião
(...e se eu fosse luaty beirão)
e se eu fosse livre
de corpo como o sou de espírito
olharia as estrelas
sem os quadrados ferrosos da agonia.
o pátio encharcado de pés
que se cruzam de lés-a-lés
com a imagem de folhas
aos ventos retidas
no pátio das ilusões.
o sol deita-se mas o meu deitar é em pé dormitar, espreitanto a escuridão que me rodeia
nesta injusta cadeia.
o claustro vazio criado
pela a ausência forçada
deixa a nostalgia dum tempo
de utopia
mas também a esperança
doutro dia.
este livro que vos deixo
escrito nesta prisão
aos meus olhos era fogo
em folhas incendiadas
de amor e de paixão
contra o sofrimento do povo
meu irmão.
não mais calarão minha voz desejosa da razão
não mais o medo das esquinas me deixará perdido na escolha do caminho.
não mais...
havemos de ser livres
e poder-mos ter opinião!
terça-feira, 27 de dezembro de 2016
infância
"O trabalho não é virtude, nem honra; antes veria nele necessidade e condenação. É, como se sabe, consequência do pecado original."
in: Agostinho da Silva_ Considerações
nós éramos assim...
as crianças adiadas
quase sempre infelizes
e quade sempre cansadas.
éramos o tempo parado
em relógios sem horas
ponteiros de silvo odiado
no rugindo das demoras.
éramos o fim começado
com semana inglesa
e a mais dura certeza
de aprender a ser escravo.
moldavam-nos a vontade
e matavam-nos a liberdade.
(não me venham falar de trabalho...)
mas ao fim do dia...
libertos das infâncias aprisionadas
materalizávamos brincadeiras inventadas.
todo o futuro parecia uma distância incomensurável
naquelas horas, até ao jantar
o tempo corria, como se não houvesse outro dia.
os carros de bambu e caricas
na finura construção
pela nossa mão
os ensaios musicais
de instrumentos rudimentares
as canções do roberto carlos
ou narrativas dos poucos filmes
até então vistos
"cântiflas" e cow-boys
era o imaginário das nossas vidas
em tal cenário.
criavamos um mundo feliz
tão longínquo e tão perto...
mas nas tardes de domingo
a ana maria
aquela linda flor
no tanque, a tomar banho
despertava-me todo o amor
as suas pequeninas
maminhas em borbotos
a despontar
eram os meus sonhos de
todas as noites...
mesmo ao acordar
onde o trabalho já não era
naquele dia um penoso lugar
(benditos amigos...e suas irmãs)
in: Agostinho da Silva_ Considerações
nós éramos assim...
as crianças adiadas
quase sempre infelizes
e quade sempre cansadas.
éramos o tempo parado
em relógios sem horas
ponteiros de silvo odiado
no rugindo das demoras.
éramos o fim começado
com semana inglesa
e a mais dura certeza
de aprender a ser escravo.
moldavam-nos a vontade
e matavam-nos a liberdade.
(não me venham falar de trabalho...)
mas ao fim do dia...
libertos das infâncias aprisionadas
materalizávamos brincadeiras inventadas.
todo o futuro parecia uma distância incomensurável
naquelas horas, até ao jantar
o tempo corria, como se não houvesse outro dia.
os carros de bambu e caricas
na finura construção
pela nossa mão
os ensaios musicais
de instrumentos rudimentares
as canções do roberto carlos
ou narrativas dos poucos filmes
até então vistos
"cântiflas" e cow-boys
era o imaginário das nossas vidas
em tal cenário.
criavamos um mundo feliz
tão longínquo e tão perto...
mas nas tardes de domingo
a ana maria
aquela linda flor
no tanque, a tomar banho
despertava-me todo o amor
as suas pequeninas
maminhas em borbotos
a despontar
eram os meus sonhos de
todas as noites...
mesmo ao acordar
onde o trabalho já não era
naquele dia um penoso lugar
(benditos amigos...e suas irmãs)
quarta-feira, 21 de dezembro de 2016
o canto das baleias
vieram de longe
as baleias
em caravelas estrelares
e traçaram sob os oceanos
um triângulo de lares.
com tanto mar
a querê-las separar
comunicam com a vida
em linguagem sub-sónica
o amor e a saudade.
cantam a natureza
em melodias espaciais.
e quem as ouve
não mais esquece
aquele fantástico cantar.
más notícias
trazem-me notícias más e
em primeira mão
das misérias
nos dias ausentes
e das tristezas
nas noites de solidão.
dos jornais e
da televisão
todos os dias
aguardo notícias
e não estas
que mostram um
mundo sem razão.
a notícia:
"Uma empresa de recuperação de créditos tentou penhorar a refeição de uma funcionária da Misericórdia de Aveiro, mas a instituição recusou-se a cumprir a ordem do agente de execução e pediu esclarecimentos ao Tribunal.
[.....]
No entanto, a instituição respondeu que não podia cumprir a ordem, porque a funcionária toma a refeição no refeitório do lar de terceira idade onde trabalha, e pediu um esclarecimento ao juiz titular do processo.
[.....]
"Quererá o senhor agente de execução deslocar-se diariamente à instituição munido de uma marmita e retirar da boca da executada o seu alimento? A sopa, o pão, o arroz, as batatas, o naco de carne ou a posta de peixe?", questiona a advogada de defesa."
in: jornal "Correio da Manhã", 19.12.2016
segunda-feira, 19 de dezembro de 2016
trocaram o menino-jesus pelo pai-natal
meia-noite e chaminé
um sapatinho e muita fé
- o menino-jesus há-de vir...
adormecia-se e ao acordar
sem o conseguir espreitar
recolhia-se a prendinha a rir.
agora é um pai-natal
em qualquer centro comercial...
- venderam o deus-menino
num saldo ou promoção
mataram no sonho a emoção!
quinta-feira, 15 de dezembro de 2016
desigualdade
de que serve o voo circular do poema
se os pássaros calam o chamamento do ninho?
de que serve o céu cinzento da chuva em bonança
se o solo não mais produz sorrisos nos infantes olhos?
de que serve o mar verde da esperança
se os gatos navegam pingados de espinhas?
de que serve o quente sol de inverno
se os bancos de jardim tremem o frio dos velhos?
de que servem, afinal, dias marcados
no calendário da pobreza
se não saceiam a fome do calor, no aconchego dum lar?
tudo é tão relativo... há sempre, num qualquer lugar, onde a pobreza é mais sentida.
mas há o reverso da medalha...
quantos pobres serão necessários
para fazer um rico canalha?
se os pássaros calam o chamamento do ninho?
de que serve o céu cinzento da chuva em bonança
se o solo não mais produz sorrisos nos infantes olhos?
de que serve o mar verde da esperança
se os gatos navegam pingados de espinhas?
de que serve o quente sol de inverno
se os bancos de jardim tremem o frio dos velhos?
de que servem, afinal, dias marcados
no calendário da pobreza
se não saceiam a fome do calor, no aconchego dum lar?
tudo é tão relativo... há sempre, num qualquer lugar, onde a pobreza é mais sentida.
mas há o reverso da medalha...
quantos pobres serão necessários
para fazer um rico canalha?
Publicada por
LuísM Castanheira
à(s)
19:16
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quarta-feira, 14 de dezembro de 2016
ensaio sobre o nada
há uma estrada no meio do nada
que não leva a nada.
e nessa estrada vinda do nada
fica a pergunta: para que serve
a inútil estrada
que não serve para nada?
por uma qualquer razão
(há uma razão por detrás duma
racional razão)
se não existisse o nada
nada teria razão.
a estrada está lá
não para ser usada
nem simplesmente
para contemplação
está porque é essa a sua razão
a razão do nada
e a sua existência
é já por si uma boa razão.
(dá p'ra rir, mas existe mesmo, além da estrada, uma ponte)
que não leva a nada.
e nessa estrada vinda do nada
fica a pergunta: para que serve
a inútil estrada
que não serve para nada?
por uma qualquer razão
(há uma razão por detrás duma
racional razão)
se não existisse o nada
nada teria razão.
a estrada está lá
não para ser usada
nem simplesmente
para contemplação
está porque é essa a sua razão
a razão do nada
e a sua existência
é já por si uma boa razão.
(dá p'ra rir, mas existe mesmo, além da estrada, uma ponte)
domingo, 11 de dezembro de 2016
um olhar
degraus e patamar
sobe-se ou desce-se
como a vida
e só fica um olhar
[ao passado]
aqui
no patamar...
sábado, 10 de dezembro de 2016
Olivença
[descendentes de portugueses
pedem dupla nacionalidade - RTP1]
Além Guadiana, Olivença
além da Pátria, uma crença:
as raízes das gentes e a história
não deixarão apagar a glória
da terra que foi e é Portuguesa
e há-de estar sempre na memória.
E aquém, não esquecemos...
terça-feira, 6 de dezembro de 2016
segunda-feira, 5 de dezembro de 2016
o fim d(i)a_tado(r)
Hades, e outros
levantaram aos céus
fortalezas de barro
e cercaram-se
na penumbra
dos sons
arrastados nas certezas
dos dons
quais ditadores
deuses do seu olímpo
longe das bocas
famintas.
e o tempo
seu único invasor
apodreceu a vida
com as muralhas
da ilusão
a cairem
na viva
revolução.
acumularam riquezas
em caves capitais
e deixam o seu mundo
aos filhos, netos
e demais.
só os afetos
dasapareceram
perdidos
no princípio dos tempos.
domingo, 4 de dezembro de 2016
o teu nome, amor
nada de novo
acontece, na manhã
que amanhece.
só o teu nome
amor, dá aos céus o
eterno clarão, escrito no
beijo da tua mão.
acontece, na manhã
que amanhece.
só o teu nome
amor, dá aos céus o
eterno clarão, escrito no
beijo da tua mão.
sexta-feira, 2 de dezembro de 2016
amores-perfeitos
(por vezes procura-se sem se saber o quê)
fui à feira-da-ladra à procura do poema
a chuva encharcava a distância
toda a rua era pejada de misturas
e o poema andava pelas escondidas
amarguras.
a tarde já ia longa e longa era a espera do achado
no desencontro das palavras os guada-chuvas
toldavam as distâncias e
as sílabas saltitantes
eram peixes de boca aberta
nos pingos caídos das algibeiras
dos vendedores e vendadeiras
entre a multidão vi um mendigo
e perguntei-lhe pelo paraíso
não me respondeu
mas olhou-me intensamente
na visão alarmante dum louco
(mal sabia ele que por vezes a verdade está no meio da loucura)
mas quanto à procura
nada
nem vestígios de algum dia ali ter estado
ou passado
já a minha esperança era sumida
quando
pela mão duma criança
eram desprendidas bolas de sabão
...e então reparei
ali estava à vista desarmada
o poema translúcido de suaves cores
em arco-iris de amores (perfeitos).
fui à feira-da-ladra à procura do poema
a chuva encharcava a distância
toda a rua era pejada de misturas
e o poema andava pelas escondidas
amarguras.
a tarde já ia longa e longa era a espera do achado
no desencontro das palavras os guada-chuvas
toldavam as distâncias e
as sílabas saltitantes
eram peixes de boca aberta
nos pingos caídos das algibeiras
dos vendedores e vendadeiras
entre a multidão vi um mendigo
e perguntei-lhe pelo paraíso
não me respondeu
mas olhou-me intensamente
na visão alarmante dum louco
(mal sabia ele que por vezes a verdade está no meio da loucura)
mas quanto à procura
nada
nem vestígios de algum dia ali ter estado
ou passado
já a minha esperança era sumida
quando
pela mão duma criança
eram desprendidas bolas de sabão
...e então reparei
ali estava à vista desarmada
o poema translúcido de suaves cores
em arco-iris de amores (perfeitos).
Publicada por
LuísM Castanheira
à(s)
16:40
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