quinta-feira, 7 de outubro de 2021

Ary dos Santos _ poeta quase esquecido

1936-1984


Nem um poema nem um verso nem um canto...

Podem as pedras versar que todo o poema
é  Beleza mesmo que não possam falar

E dos seus versos um há-de encantar que a liberdade foi construída nas prisões em dias frios de rachar

Podem os pássaros cantar que do seu canto algum há-de deste poeta falar

Nem um som nem um grito nem um ai....

Calem-se as vozes que meu canto traz os cheiros sabores e cores duma laranja amarga-doce na sede que me faz gritar


" -- O meu amigo está longe
e a distância é bastante. --"

Senhor água torrente sentimento gente
enxurrada quase demência sem margens 
sem desistência

Flor vermelha um só cravo cravado
na lapela e coração Senhor azul num céu cinzento e das cinzas seu tormento
Senhor esquecido amargurado ferido e 
tanta solidão festa que foi consigo...

Porém quando quando por vezes és de pedra
não mármore mas árvore mas dura do fundo do teu mar levanta-se a
cratera
da nossa lusitana sepultura.

Senhor aristocrática plebeia firmeza
bebedeira da vida leveza escrita purgada palavra pureza dorida noitadas de insónia desmedida

Oh fel de infância família raiz apodrecida

Ai fonte que eu não oiço ai mãe ai mel
da flor do corpo que me traz à míngua.

Só e amigos e partido
partido consciência 
partido sangue 
alma 
e jardim de cristalina poesia
alguma musicada
cantada
revelada 
de épica trova ao vento largada.

Este mar não tem cura este céu não tem ar

(em itálico e bold, excertos de poemas de Ary dos Santos, in Antologia Poética)














2 comentários:

  1. Tem toda a razão, mas nós, quem gosta da sua poesia, não o pode esquecer!

    Parabéns!

    Um abraço.

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  2. É impossível esquecer o Poeta Ary dos Santos. Eu sei poemas dele de cor...
    Cuidem-se bem.
    Uma boa semana.
    Um beijo.

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